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segunda-feira, 28 de março de 2016

Por que você tem dor de cabeça ao assistir a filmes 3D

Eu nem lembro qual era o título em cartaz. Só sei que, na primeira vez que assisti a um filme em 3D, eu saí do cinema e imediatamente tomei um remédio para dor de cabeça que sempre deixo na mochila. Na ocasião, eu nem liguei muito, até porque o remédio fez efeito rápido. Mais tarde, porém, eu descobri que mais gente tem o mesmo problema. Muita gente, para ser mais claro, tanta que um grupo de cientistas decidiu investigar as causas do problema.

No meu caso, a dor de cabeça é leve e não ocorre sempre. Mas eu sei de pessoas que ficam tão incomodadas com os “efeitos colaterais” de filmes em 3D que não fazem questão alguma de vê-los, preferindo o cinema tradicional, “sem essas frescuras de óculos”.

Como dá para notar, a situação é esta: algumas pessoas notam poucos efeitos, outras sentem bastante e, claro, há aquelas que não têm nenhum tipo de desconforto. Por que há essas diferenças? Porque algumas pessoas são mais sensíveis que as outras e também porque o “gatilho” do problema pode variar.
É mais comum do que parece

Um grupo de pesquisadores da Universidade Estatal Lomonosov, na Rússia, passou nada menos que oito anos estudando os incômodos causados por filmes em 3D. Os resultados foram divulgados na recente edição da conferência Stereoscopic Displays and Applications, realizada em San Francisco.

O estudo teve várias etapas. Uma delas, executada em 2011, consistiu em entrevistas com franceses logo após eles assistirem a um filme em 3D. Esse levantamento reforçou a ideia de que os efeitos são variados: 27% notaram certo desconforto; 22% sentiram incômodos mais fortes; 7% tiveram dores de cabeça bem intensas; 11% apresentaram incômodos, mas por outras razões não especificadas (como uma dor no pescoço causada por má postura, suponho); o restante não sentiu nada.

Repare que o levantamento foi feito após a exibição de um filme. No entanto, para Dmitry Vatolin, líder do estudo, quase todo mundo que já viu um filme em 3D sentiu incômodos em algum momento, uns com mais intensidade, outros com menos. Em outras palavras: quem não teve nada naquele dia pode ter sentido desconforto com outro filme.

Para que possamos assistir a um conteúdo tridimensional, o cérebro precisar combinar duas imagens bidimensionais — uma para cada olho — para obter um efeito estereoscópico, ou seja, ter a noção de tridimensionalidade em si, com percepção de profundidade, posição e distância.


Porém, há situações em que o cérebro não consegue realizar esse trabalho corretamente. Se essas falhas forem pontuais, normalmente o cérebro se adapta e, pronto, você não perceber nada. Mas se o problema se manifesta com certa frequência, os incômodos aparecem, incluindo a dor de cabeça. É como se o cérebro ficasse sobrecarregado tentando formar corretamente essas imagens. Às vezes, basta você estar minimamente cansado para desencadear o desconforto: a fadiga acaba atrapalhando o cérebro no processamento dessas informações.

A equipe de Vatolin concluiu que há pelo menos 15 causas ou “gatilhos” para essa falha na junção das imagens. Elas foram separadas em dois grupos: “imperfeições em ferramentas” e “falhas no filme”.

No primeiro grupo estão, essencialmente, óculos, visores e projetores de qualidade inferior usados para diminuir os custos operacionais de cinemas e distribuidores. As propriedades inferiores desses equipamentos acabam gerando distorções e outros tipos de imperfeições nas imagens que, você sabe agora, deixam o cérebro numa enrascada.

Na categoria “falhas no filme”, a situação é mais complicada. Em tese, os equipamentos ruins podem ser substituídos e tudo fica bem. Só que quando há problemas em filmes, eles são detectados (por gente especializada) só depois de as produções chegarem aos cinemas ou ao mercado via Blu-ray, por exemplo.

Um dos problemas detectados foi a troca da imagem da esquerda com a direita e vice-versa. Os pesquisadores analisaram 105 filmes em Blu-ray e encontraram, considerando todos, mais de 10 mil cenas potencialmente problemáticas. A falha das imagens trocadas apareceu em 23 filmes diferentes, totalizando 65 cenas. Entre eles estão produções como Avatar, As Crônicas de Nárnia e Stalingrado.


Para Vatolin, esses números são preocupantes: “a probabilidade de comprar um Blu-ray 3D com pelo menos uma cena com as imagens da esquerda e direita trocadas é de 21%, aproximadamente, o que é bastante significativo para pessoas sensíveis”, explica.

Mas há uma boa notícia nessa história toda: os pesquisadores verificaram que a indústria vem melhorando a qualidade técnica dos filmes em 3D, o mesmo valendo para os equipamentos das salas de cinema. Dentro de dois ou três anos, os incômodos causados por produções em 3D devem diminuir sensivelmente, acredita Vatolin.
Os videogames também causam dor de cabeça

E tonturas e até enjoos, principalmente nos jogos em primeira pessoa. Mas o problema aqui costuma ser diferente: geralmente, o que causa esses incômodos é uma perturbação na percepção de movimentos pelo sistema vestibular, uma estrutura localizada na região do ouvido que responde pela manutenção do equilíbrio físico.

Esse problema é tão frequente que tem até nome: cinetose (ou, se você preferir uma expressão mais informal, “mal do movimento”). Muitas pessoas sentem os efeitos do problema em ônibus, barcos, aviões e elevadores, por exemplo, por conta de movimentos com as quais não estão habituadas.

Segundo o site MD.Saúde, o cérebro recebe informações de três estruturas para saber quando o corpo está em movimento: visão, ouvido interno (sistema vestibular) e propriocepção (capacidade de perceber a localização espacial, posição e orientação do corpo). Quando há divergências entre esses três mecanismos, a cinetose se manifesta.

Como eu passei mal com Doom…

Como exemplo, imagine uma pessoa que viaja de avião. Ela está em movimento porque a aeronave se movimenta. No entanto, em relação ao avião em si, ela está imóvel. Como a pessoa não está olhando pela janelinha, tanto a visão quanto a propriocepção informam justamente isso ao cérebro, que ela está parada. Mas, de repente, a aeronave realiza algumas manobras, fazendo o sistema vestibular informar que, na verdade, está havendo movimento. O resultado dessa confusão são tonturas, enjoos, palidez e afins.

Em relação aos games, o mecanismo é semelhante: você está lá caçando inimigos em um cenário tridimensional andando para lá e para cá feito um alucinado. Além de andar, você pula, se abaixa e gira, tudo em movimentos rápidos. Só que no lado de cá, na “vida real”, o seu corpo está parado. Aí os sentidos ficam confusos.
O que fazer

Em relação aos games, algumas ações simples podem ajudar a evitar o mal-estar, como ficar um pouco mais longe da tela, manter o ambiente iluminado (deixe a luz acessa) e fazer pausas frequentes. Regular a taxa de frames por segundo do jogo também pode ajudar, assim como usar um monitor de boa qualidade — de preferência, um que tenha pelo menos 60 Hz de frequência.

Agora, se você faz questão de assistir a um filme em 3D, mas sente desconforto com isso, o estudo de Vatolin deixa claro que não há outra coisa a fazer a não ser procurar salas de cinema que sejam bem equipadas e dar preferência para produções em 3D de alto orçamento — nelas, as chances de haver defeitos em imagens são menores (ou deveriam ser).

No caso de TVs 3D, na real, até hoje elas não convenceram (e eu tenho as minhas dúvidas se um dia elas convencerão). Mas se mesmo assim esse tipo de equipamento estiver na sua lista de desejos, vale a pena pesquisar bastante antes de escolher um modelo — convém até fazer testes nas lojas.

Nunca é exagero recomendar que você procure um médico se os incômodos forem frequentes ou fortes. Pode ser que você tenha, por exemplo, algum distúrbio visual — como miopia, hipermetropia e astigmatismo (meu caso) — que, mesmo quando leve, pode te fazer forçar demais os olhos. Esse esforço é particularmente intenso no cinema 3D ou quando você fica concentrado demais na jogatina. Nessas circunstâncias, não é bom ignorar os alertas que o corpo dá, certo?

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